segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Ney Lopes: "Tem político potiguar que acha que partido é propriedade privada" Jefferson Lira Ney critica sistema partidário no RN

Potiguar Notícias
Entrevista publciada em 14 de setembro de 2009
Por Cefas Carvalho, Roberto Lucena e Pinto Júnior



Ney Lopes: "Tem político potiguar que acha que partido é propriedade privada" Jefferson Lira Ney critica sistema partidário no RN

O ex-deputado federal e advogado Ney Lopes é o entrevistado do “No Alpendre do PN” desta semana. Confira a entrevista concedida aos jornalistas Cefas Carvalho, Pinto Júnior e Roberto Lucena:

Cefas Carvalho: O senhor confirma que será candidato em 2010?
Eu confirmo que não deixarei a política. Ficarei no processo eleitoral vinculado ao meu partido, o DEM. Se sou candidato a isto ou aquilo, ainda não está definido, qualquer hipótese é uma hipótese, mas não deixarei a política. Em última análise, serei um eleitor a favor dos candidatos do meu sistema político. Se houver alguma convocação ou viabilidade, estudarei, desde que isso não venha prejudicar a coligação que está em formação.

Roberto Lucena: Mas já houve alguma conversa dentro do DEM para saber qual será a estratégica?
O que ocorre, e é público e notório, é uma grande incógnita com relação às coligações em 2010. Se a gente fosse analisar, teríamos cinco, seis ou dez hipóteses. Há sinais de que, por exemplo, o DEM se coligue com o PMDB; há sinais de que o PMDB não quer se coligar com o DEM por sua fidelidade à Lula. Hoje o PMDB é mais lulista do que os petistas. A gente vai ter uma visão mais clara depois do carnaval.

CC: Independente do que aconteça, a candidatura de Rosalba ao Governo do Estado é um fato consumado?
Não é apenas um fato consumado. O candidato a governador que mais tem chance de ganhar, qualquer que seja a coligação, é Rosalba Ciarlini. Hoje ela tem uma situação de segurança eleitoral muito grande. Quem ganha esmagadoramente em Mossoró, quem tem mais de 70% da zona Oeste e tem todas as condições de ganhar em Natal, porque já ganhou para o Senado, só perde se mandarem chamar Malba Tahan (escritor e matemático) para fazer uma nova aritmética. Se não vier Malba Tahan, ela ganha e ganha bem. A vitória de Rosalba será maior se tentarem o isolamento dela e do senador José Agripino. Aí é que o protesto popular será maciço. E se isso ocorrer, será muito bom, porque ela vai se eleger sem compromissos. Quanto menos compromisso com partidos, candidatos, melhor. O compromisso é com o povo do RN para fazer um governo moderno, ágil e tirando do poder quem vive dele há mais de vinte anos, pulando de um governo para o outro. Esses deveriam ser oposição durante os quatro anos. Se ela chegar ao governo sem precisar fazer alianças de compromissos que a gente já conhece, terá mais liberdade de governar.

RL: Dizem que a melhor vitória é aquela cujo derrotado foi um grande lutador. Nesse aspecto, dos nomes postos, qual deles seria o melhor para desafiar Rosalba?
Permita-me não fazer essa análise porque eu iria meter o bedelho na casa dos outros partidos. Tem vários nomes que se apresentam como candidatos, apresentam cacifes. Geralmente o maior cacife é ser dono de partido. No RN, partido virou uma propriedade privada. Só falta declarar no imposto de renda. Voto a maioria não tem, mas é dono de partido. Rosalba já tem o DEM, terá o PSDB, quem quiser vir, vem. Já é um bom tempo de televisão. Deixa esses partidos para lá e vamos para as ruas. Ganha e ganha bem.

Pinto Júnior: Qual a grande lição que o senhor tirou nesses anos dedicados à política? É possível tirar lições de vida na política?
Antes de responder essa pergunta, eu teria que fazer certas análises que poderiam ser mal interpretadas. Mas uma lição que a política dá, infelizmente, é que quanto mais coerência o político tem, menos chance de chegar lá. Hoje em dia está assim: se consumando o oportunismo eleitoral. A coerência partidária foi jogada na lata de lixo. A pessoa ou é dona de partido ou tem que saltar de uma legenda para outra se quiser sobreviver. Eu nunca fiz isso. Estou no DEM desde a fundação. Eu e Zé Agripino somos fundadores do PFL, hoje DEM. Tive chances de ir para outra legenda, fui convidado, mas mantive minha coerência. Não apresento isso como trunfo, quem foi incoerente teve mais chances do que eu.

PJ: O senhor diz que no RN não se ouve a "prata da casa". A classe política não privilegia nomes como o do senhor, de Fernando Bezerra, Geraldo Melo. A que se deve isso?
Política, infelizmente, tem um comportamento de que as pessoas que enxergam um pouco à frente do nariz devem ser isoladas porque são perigosas. Perigoso por quê? "Pensa muito, tem muita proposta". É natural que as elites políticas não queiram concorrentes. Eles só gostam dos que dizem amém. Não quero entrar em detalhes, mas é isso que se ver no RN. Não quero me elogiar, mas eu lembro que, em seis mandatos de deputado federal, passei permanentemente como um dos cem melhores deputados federais. Quem escolhia era um instituto controlado pelo PT. Então eu fiz alguma coisa de bom, senão como eu estava nessa lista? Cheguei a ser colocado entre os dez melhores parlamentares divulgado na revista Época. Infelizmente a regra é de que, quem tem essa história de vida, não é muito convocado porque acha que é perigoso.

RL: O senhor disse também que a política do RN é a mais atrasada do país. Porque chegou a essa conclusão?
Infelizmente o atraso da política do RN tem um aval: um baixíssimo índice de discussão séria dos problemas do estado e propostas concretas. Isso faz com que os mesmos políticos se repitam independente de idade. Não acho que renovação seja ser moço ou velho. Renovação é cabeça globalizada, acompanhar o tempo e a história. No Ceará, houve renovação das elites políticas. Na Paraíba, você ver os Cunha Lima, pessoas simples, chegarem ao poder. Em Pernambuco, temos Miguel Arraes, Jarbas Vasconcelos. No RN, o que você ver? Da representação federal, de onze, nove são de duas famílias por ligações sanguíneas ou consangüíneas. Só tem dois que não são: Fátima Bezerra e Rogério Marinho, que mesmo assim, é neto de Djalma Marinho, que foi um grande deputado federal. Não sou contra que uma família tenha candidato, mas não é possível tanta concentração. Aí está demais, a dose está muito grande. É preciso dar mais oportunidade. O grande governo que Rosalba podia fazer é ter a bandeira das oportunidades. Abrir chances. Quanta gente boa tem aqui em todos os setores. Sempre defendi a criação de um banco de talentos. O que precisamos é de talento, de gente com a cabeça renovada. O RN tem umas quinhentas pessoas que há 20 anos vivem de governo, geralmente metendo a mão nos cofres públicos. Se Rosalba acabar com isso, só aí já dá para fazer um governo revolucionário sem precisar de um tostão de fora.

CC: Recordo que em 2006, Betinho Rosado teve dificuldades em esconder mágoas de Zé Agripino. O senhor guarda alguma mágoa do senador?
O político amadurecido, e eu me considero assim, não guarda mágoa em geladeira. O que existe na política, e ninguém pode fugir e esconder, são os desencontros pelo conflito de pretensões. E isso existiu comigo, com Betinho, com o próprio Zé Agripino. Dou-lhe exemplo: Agripino se chocou com o DEM quando foi preterido na sua indicação para vice-presidente da República pelo senador Zé Jorge. Ele guardou mágoa? Certamente que não. Ficou satisfeito? Certamente que não. Eu tive situações semelhantes dentro do quadro político do RN, mas isso não quer dizer que eu tenha mágoas. Isso superou, passou e se eu continuo no partido. Não vou ficar revivendo esse quadro.

RL: Tendo em vista todos esses problemas que acontecem na política, qual tipo de conselho o senhor deu para seu filho, Ney Lopes Júnior?
O conselho que dei foi que nunca fizesse da política a única alternativa de sobrevivência pessoal. Não fazer do mandato de vereador um emprego público. A política tem que ser o exercício de uma vocação. Quem entra na política para sobreviver dela, vende a alma para o diabo por antecipação. Por isso que ele se formou em Direito, Jornalismo, passou dois anos e meio nos Estados Unidos, tem mestrado, fala três idiomas, tem uma base de vida de profissional liberal e venho prestar serviço a cidade do Natal por quatro anos e ninguém sabe qual vai ser o futuro. Ney Júnior, seguindo o meu conselho, não faz do mandato um meio de vida. É só instrumento de exercitar a vocação que ele viu em mim e quis seguir.

CC: O DEM foi um dos principais alicerces da eleição de Micarla de Sousa. Após quase um ano de mandato, qual sua avaliação?
Micarla está indo muito bem na medida em que tem projetos audaciosos, está buscando recursos. Mas ela não pode fazer milagres em menos de um ano em Natal. Vejo, pelo o que eu conheço dos estudos e projetos dela, uma preocupação muito grande de acertar. Acredito que fará uma boa administração. Esse primeiro ano é para arrumar a casa.

RL: Semana passada, nesse mesmo Alprende do PN, o vereador George Câmara disse que quem mandava na prefeitura de Natal era o DEM. Como o senhor responde a essa afirmação?
Eu gosto muito do vereador George Câmara, mas o partido dele, o PCdoB, que é respeitado por sua história, infelizmente elegeu o DEM como "boi de piranha" e tudo que quer atribuir de mal é o DEM. Se ele disse que o DEM tem influência total eu não sabia. Mas se tiver essa influência, será uma segurança a mais para que Micarla faça um bom governo.

RL: Segundo o senhor, a vitória em 2010 dependerá da credibilidade dos candidatos. Dos políticos do RN, quais estariam com essa credibilidade em alta e quais os que estão à margem?
O primeiro requisito para credibilidade em 2010 é o não envolvimento nesse mar de lama de escândalos da política nacional. Quem estiver envolvido direta ou indiretamente, o povo vai fazer restrição na eleição majoritária. Na proporcional não, pois a gente sabe que o dinheiro funciona. Eu não quero ser juiz de ninguém, mas eu acho que os nossos candidatos, Zé Agripino e Rosalba, preenchem esse requisito. É aí o medo que tenho de uma coligação que misture azeite com água, por exemplo, se Rosalba e Zé Agripino vier a se juntar aos lulistas de hoje, o povo poderá dizer "ah, são os mesmos, como Zé fazia discurso contra Lula e agora está ao lado do seu maior defensor?". Isso pega mal e pode ser um fator que perca credibilidade.

PJ: O senhor está se referindo ao PMDB?
Especificamente ao PMDB, ao PSB, os outros partidos que apóiam Lula. O DEM com Rosalba e Zé Agripino e com a coligação possível, ganha a eleição tranquilamente porque o voto de protesto está na garganta do povo. Quanto mais tentarem isolar, mais a vitória é certa. Porque terá uma bandeira de oposição respeitosa sem gerar a desconfiança de que são farinha do mesmo saco. É preciso tirar as algemas que as coligações contraditórias colocam nos punhos dos candidatos.

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