terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Micarla diz que articulação por Carlos tira segundo voto de Wilma

Correio Político com capa, Correio da Tarde
Entrevista exclusiva publicada em 26 de dezembro de 2009
Por: Walter Fonsêca, Ilana Albuquerque e Allan Darlyson



Micarla diz que articulação por Carlos tira segundo voto de Wilma

Alexandre Lago


Prefeita de Natal desde o dia primeiro de janeiro de 2009, a jornalista Micarla de Sousa (PV) está satisfeita com o primeiro ano de gestão, apesar das dificuldades encontradas em um ano de crise financeira mundial. Em entrevista exclusiva ao CORREIO DA TARDE, a prefeita avaliou seu primeiro ano na prefeitura, comentou a expectativa do seu partido para as eleições de 2010, descartou a possibilidade de apoiarqualquer candidatura apoiada pelo ex-prefeito Carlos Eduardo no próximo pleito eleitoral e expôs os problemas enfrentados por ela naadministração do município. Veja a entrevista:

CORREIO DA TARDE: Prefeita, ao assumir a prefeitura de Natal, a senhora se deparou com o desafio de transformar um projeto em realidade. As dificuldades enfrentadas pela senhora já eram esperadas?
Micarla de Sousa: As dificuldades foram bem maiores do que as esperadas, até porque quando nós vencemos a eleição, eu e Paulinho(Freire, vice-prefeito de Natal), a realidade era completamente diferente. Houve uma mudança na realidade econômica do mundo. No dia 6 de outubro, um dia após a nossa vitória, houve uma queda na economia mundial e acabou havendo uma retração ao Rio Grande do Norte e consequentemente ao município de Natal, que também está inserida nesse contexto da economia brasileira. Tivemos que, durante a administração, reorganizar os números previstos pela gestão passada com relação ao orçamento referente às nossas demandas.

Depois de um ano de governo, quais ações a senhora aponta como mais importantes de sua administração?
Pra mim, a ação mais importante que nós tivemos na nossa gestão foi o nosso modo de lidar com a educação. Nós conseguimos tratar de três problemas sérios que diminuíam a capacidade de nossas crianças de aprender com qualidade. Por isso que considero as medidas mais importantes nessa área, com a inclusão do merenda em casa, em que a criança recebe um complemento alimentar de acordo com a presença em sala de aula, então além de cuidarmos da nutrição conseguimos reduzir os índices de evasão. Outro programa muito importante neste sentido é a caravana da saúde escolar, que levou médicos para dentro das escolas. Apenas nos dois primeiros meses já distribuímos 2 mil óculos. Aliado a isso, tem o tratamento com os nossos professores que recebem incentivo para cursar a faculdade. Na educação, foi a área em que mais avançamos, principalmente também com a construção e reforma de 21 novos Cemei's (Centros Municipais de Educação Infantil). No próximo ano, vamos iniciar com 10 mil alunos.

A saúde é uma das áreas mais criticadas do Brasil. Em Natal não é diferente. No início, houve todo um apelo, durante a campanha eleitoral, para que a senhora solucionasse os problemas referentes à área. Passado um ano, a senhora está satisfeita com a situação atual da saúde no município?
Ainda não estou satisfeita. Essa foi a área onde encontramos o maior número de problemas. Os problemas talvez mais complexos. Problemas que independiam da nossa vontade. Uma coisa é a gente, por exemplo, na educação, querer melhorar e ter vontade política de fazer as coisas acontecerem. Outra coisa é ter a vontade política, existir os recursos, mas ter encontrado entraves que independem da nossa vontade. E digo que o principal deles é a falta de médicos. A prefeitura não tem como obrigar aos médicos que eles sejam funcionários do município. Vai ser funcionário da prefeitura quem quer, quem deseja trabalhar no serviço público.

Uma das realizações mais polêmicas desse ano foi a decoração natalina, que recebeu muitas críticas. Qual a avaliação da senhora sobre essa questão?
Olha, eu acho que tudo que é novo provoca um tipo de emoção diferente. Se você faz o mesmo que sempre vinha sendo feito, as pessoas naturalmente se acostumam. A questão é que nós resolvemos, neste ano, encarar um Natal como uma festa nossa, da nossa cidade, para celebrar o nome da nossa cidade, que tem um nome ímpar, que é Natal. Mas nós quisemos também fazer desse um evento para atrair mais turistas para a nossa cidade. Então, como fazer o Natal que não fosse o mesmo concorrer com cidades que têm essa época consagrada como no caso de Gramado, que tem um Natal europeu, características das raízes germânicas de Gramado? Então, nós quisemos fazer um Natal do Brasil. Por isso que é "Natal em Natal, o Natal do Brasil”. É o Natal tropical, um Natal onde papai Noel chega de jangada, com golfinhos. É um Natal diferente. Por isso contratamos nosso artista potiguar Zeca Zener, que há nove anos é responsável pelo Natal de Gramado. Trouxemos ele pra cá e pedimos para que ele fizesse uma decoração que retratasse esse Natal tropical, esse Natal diferente, esse Natal com o
sol brilhando. Lógico, aconteceram algumas críticas. Algumas pessoas falaram que não gostaram, outras disseram que gostaram. O fato é que, trocando em miúdos, o Natal em Natal é um grande sucesso. Toda a mídia nacional, os jornais de grande circulação, ganhando páginas inteiras, tivemos reportagens em todas as cadeias de televisão nacionais. Ontem, por exemplo, tivemos na Rede Globo uma reportagem encerrando o Jornal Nacional.

Durante os primeiros meses de gestão, a senhora encarou problemas, como a perda volumosa de medicamentos. Depois veio o Parque da Cidade, que se encontra fechado. Houve uma decisão do TCE que dá 90 dias para que a prefeitura reabra o local. Como é
que essa questão está sendo conduzida e vista pela prefeita?
Eu acho que o TCE (Tribunal de Contas do Estado) tomou uma decisão certíssima, de chamar a quem de direito para que as pessoas possam se responsabilizar. Dinheiro público não pode ser usado por brincadeira. Não pode ser usado para dizer: vamos apressar aqui porque o mandato está terminando, vamos fazer de qualquer jeito. Não tem senso gastar R$ 21 milhões num prédio que vai precisar que a gente gaste pelo menos mais uns R$ 10 milhões para que ele fique concluído, pois existem situações simples, como a do elevador, que se tornaram problemas complexos. Foi dinheiro público jogado fora. Tínhamos parado a obra, paramos de fazer os pagamentos à empresa, pois não aceitamos receber o prédio naquelas condições em que foi entregue. Não podíamos colocar a população em risco. Então, fechamos o prédio e agora, com essa decisão, os antigos gestores serão chamados para explicarem ao TCE e à população o porquê de terem usado R$ 21 milhões de recursos públicos numa obra como aquela. O dinheiro foi jogado fora.

Prefeita, durante o ano inteiro, a sua bancada sempre se manteve unida na Câmara Municipal de Natal, mas recentemente houve um impasse entre o seu líder, Eníldo Alves, e o vice-líder, Ney Lopes Júnior, sobre a votação de um Projeto de Lei que modifica a forma de pagamento do auxílio transporte aos servidores públicos municipais. Como a senhora vai agir para acalmar os ânimos na base?
Eu não vejo isso com espanto. É normal, é natural esse tipo de embate. As pessoas são diferentes. Que bom que as pessoas não pensam igual. O que seria do azul se todo mundo só gostasse do vermelho? Então, considero natural esse tipo de questão. Ainda mais acontecendo com Enildo, que é uma pessoa brilhante tem feito um ótimo trabalho, defendendo nossa gestão, e Ney Júnior, que é brilhante, dedicado, uma promessa muito interessante para a política do Estado. Os dois têm o temperamento forte. Aconteceu um problema. Ney está se recuperando de uma peneumonia, então não foi na última semana votar. Certamente, os dois são adultos e a gente vai conseguir contornar essa situação.


Micarla, o PV caminha para firmar uma aliança com o DEM, em 2010, em apoio à candidatura da senadora Rosalba Ciarlini?
Nós temos uma relação muito amigável com o DEM, até porque o senador José Agripino(presidente estadual do DEM) trouxe o DEM ainda um ano antes da eleição, ainda em 2007, para nos apoiar. Então, isso aconteceu e sou grata sempre a esse apoio. Em seguida, logo após a nossa posse, o DEM passou a participar de forma ativa da nossa administração, ocupando secretarias importantes, como no caso da Secretaria de Planejamento, da pasta de Obras. O partido tem quadros interessantes. Então, é muito difícil agora, ainda no final de 2009, a gente dizer que vai caminhar junto. Eu espero caminhar com o DEM e com os outros partidos que nos apoiaram. Eu espero estar junto com o DEM, PMN, PP, PTB, PR e outros partidos que venham a agregar. Espero que o PV esteja junto neste contexto. Não sei se será possível, mas isso é algo que nosso partido vai definir. Não vai ser uma decisão pessoal minha. Será uma decisão partidária.

Prefeita, o deputado federal João Maia já descartou a possibilidade de repetição da aliança que a elegeu em 2008, alegando que estará no palanque dos partidos que integram a base de Lula, em 2010. A saída do PR representa uma perda para o grupo?
Eu ainda não conversei com João Maia a respeito disso. Eu vi a declaração que ele deu ao CORREIO DA TARDE, mas ele ainda não passou isso pra mim. A não-repetição do nosso palanque seria uma pena, pois juntos nós mostramos que somos fortes. Naquele momento onde existia todo um descrédito de que uma candidatura que não tinha o apoio de nenhum dos governos (estadual, municipal e federal). Mas vencemos a eleição. A união dos nossos partidos, dos nossos líderes juntos mostrou que ali se formava um grupo vencedor. Eu não gosto de mexer em time que está ganhando. Vai ser uma pena muito grande (a não-repetição do palanque de 2008). Espero que isso (a saída de João
Maia) não aconteça. Mas se acontecer, espero agrupar o maior número de partidos que estiveram conosco em 2008.

Até o momento, o único compromisso do PV e da prefeita para 2010 na eleição majoritária é o voto no senador José Agripino, candidato á reeleição?
Nosso compromisso é com Agripino. Disso não abrimos mão. Afinal, o senador foi fundamental para a vitória de 2008, que pra nós tem um significado especial. A vitória da primeira prefeita verde a administra uma capital do Brasil. Então, esse gesto tem que ser retribuído e a nossa forma de retribuir é com o nosso voto.

Com a possibilidade de o deputado Robinson ser confirmado como vice na chapa da senadora Rosalba Ciarlini (DEM), que espaços o PV teria para integrar a majoritária?
Essa (Rosalba para o governo e Robinson vice) seria uma chapa muito forte. Hoje, é inegável a preferência da população de Mossoró, acredito também que de Natal, e aí fecharia com o deputado Robinson, que tem toda uma liderança no interior. Mas acho que ainda muito cedo para discutir sobre isso. O PV espera participar da chapa majoritária porque nós acreditamos que temos quadros que possuem condições agregar. Em qual posição (suplente de senador ou vice-governador) ainda é cedo para dizer. Certamente, isso vai ser algo a ser discutido posteriormente.

Ao mesmo tempo em que diz que quer seu apoio na disputa de 2010, a governadora Wilma de Faria, que será candidata ao senado no próximo pleito, afirma que quer o ex-prefeito Carlos Eduardo em seu palanque. Seria possível unir a senhora e o ex-prefeito em no apoio à governadora, em Natal?
O PV faz política agregando, construindo. Mas as pessoas cobram coerência. É muito difícil imaginar um palanque onde se misture a água com o azeite. Então não existe essa possibilidade. Todo candidato pode escolher. Mas seria muito complicado, pois a administração do Partido verde sofre hoje por causa do que nós encontramos da gestão do ex-prefeito. Não vejo sentido. Nossos pensamentos são diferentes. Nossas ideias são diferentes. É muito difícil haver alguma conversa nesse sentido.

Micarla, para a disputa pela Câmara Federal, a senhora chegou a declarar ao CORREIO DA TARDE que apoiaria o chefe de gabinete da prefeitura de Mossoró, Gustavo Rosado. Mas agora já surgem nomes como o do seu marido, Miguel Weber, e o do vereador Paulo Wagner (PV) como propensos candidatos ao mesmo cargo. Qual será a estratégia do PV nessa disputa? Apoiar onome de Gustavo como candidato oficial do partido ou lançar outras candidaturas?
Que bom que temos vários nomes que podem chegar lá. É uma recomendação do nosso partido que o Rio Grande do Norte, que em quatro anos cresceu 6 mil por cento em votos, ter uma vaga na Câmara Federal. Eu confesso que gosto demais do nome de Gustavo. Acho que ele agrega, pois é jovem, talentoso, conhece a gestão pública. Então como ele conhece pode contribuir bastante no Legislativo. É um nome excelente. Mas acredito que o partido deva lançar mais de um nome. Ainda não tenho esses nomes porque será uma decisão interna do partido. A ideia é colocar vários candidatos em regiões diferentes.

Prefeita, haverá reforma no secretariado para o início de 2010?
É normal que haja mudanças no secretariado. Existem muitas especulações em relação às mudanças. Nossos secretários estão sendo avaliados pelo trabalho que fizeram no primeiro ano.Tudo isso pesa. Mas não existe nada definido. Existe um foco na avaliação dos gestores. Se precisar, faremos mudanças. Mas não tem nada marcado.

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