segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Papai Noel para Lula

Opinião, Diário de Natal
Artigo publicado em 20 de dezembro de 2009

Ney Lopes, Jornalista, advogado e ex-deputado federal.

O Presidente Lula é inegavelmente um homem de sorte! Senão vejamos. Até bem pouco
tempo parecia sólida a sua aliança com o PMDB, que ocupa seis ministérios importantes no
governo. No passado, Lula nunca confiou no PMDB. Depois da eleição de 2002, o ministro
José Dirceu defendeu a aliança com os peemedebistas. Lula foi contra. Somente cedeu,
após o "furacão do mensalão", quando aceitou chamar o PMDB para a sua base, em troca
de vantagens.
O PMDB inegavelmente tem tradição e história. Resistiu à Revolução de 31 de março.
Nessa época, (1966) fui um dos fundadores no RN. Ultimamente, entretanto, segundo
editorial de importante órgão da imprensa nacional, é visto não como um partido, mas
"federação de grupos regionais, unidos na prática renitente do patrimonialismo. A lógica
de sua atuação é ocupar cargos públicos para obter vantagens pessoais e sustentar
máquinas partidárias locais, baseadas no clientelismo. Não raro essa atividade política
abastardada resvalapara a corrupção". Essa falta de consistência doutrinária atinge
também outros partidos brasileiros, inclusive o PSDB e DEM, abalados por denuncias no Rio
Grande do Sul e Brasília, respectivamente.
A recente crise do governo Arruda no DF chamuscou a cúpula do PMDB. O governo
percebeu isto e tenta fortalecer a chapa oficial à Presidência da República, com o nome
de Ciro para vice. Tudo começou com a proposta para o partido indicar "lista tríplice", a
fim da ministra Dilma Rousseff (PT) escolher o candidato a vice. A cúpula partidária
interpretou como desprestígio ao deputado, Michel Temer, escolhido pela direção
nacional para integrar a chapa de Dilma.
O deputado Henrique Alves logo tomou as dores e disparou que "o correto para o PMDB é o
que o PMDB entender ser o correto". Henrique sonha em presidir a Câmara, com Temer na
vice-presidência.
Na prática, a reserva estratégica de Lula é Ciro Gomes como vice de Dilma. A mudança do
seu domicilio eleitoral para disputar o governo paulista afastou-o da disputa presidencial.
Lula admite às claras que Ciro agrega mais votos do que qualquer outro nome
peemedebista. Dá credibilidade ao eleitor, inclusive no exercício eventual da Presidência
da República. Com a desistência de Aécio Neves, a campanha será radicalizada e Ciro traz
para o palanque vigoroso discurso contra José Serra.
O governo está convencido de que o PMDB fragmentou-se e a sua diretriz de ação é
ocupar o poder a qualquer custo, ou aliar-se a ele. Transformou-se em vários partidos
liderados por Michel Temer (SP), José Sarney (MA), Roberto Requião (PR), Orestes Quércia
(SP), Iris Rezende (GO), Sérgio Cabral (RJ), Hélio Costa vs Newton Cardoso (MG), Henrique
vs Garibaldi Alves (RN), todos em aberta dissidência interna, inclusive com "portas
abertas" para apoiar José Serra.
A seqüência de escândalos nacionais abre os olhos do eleitor, que exigirá em 2010 maior
coerência dos partidos e candidatos. Certamente, ocorrerá rejeição nas urnas ao
"cocktail" partidário, sem diretriz nacional única, que fará alianças nosestados, em função
de conveniências e oportunismo. Pelo andar da carruagem, essas coligações artificiais
poderão falhar e ocorrerem "zebras". É o caso de perguntar: o que ganharia Dilma com
aliados desse tipo?
Como afirmou Aécio Neves ao sair da disputa presidencial "política é a arte de administrar
o tempo, até para não nos tornamos refém dele". Lula sabe disso e as últimas denuncias
de Brasília deram-lhe o "mote" para emplacar Ciro na chapa de Dilma. Verdadeiro
presente de Papai Noel. Só não vê quem não quer!

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