segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Os sonhos de Otomar

Opinião, Diário de Natal
Artigo publicado em 31 de janeiro de 2010

Ney Lopes, Jornalista, advogado e ex-deputado federal

Otomar Lopes Cardoso viveu intensamente o sonho de viver. Fomos amigos, desde os anos 60. Trabalhamos juntos na memorável obra social de D. Eugenio Sales, conhecida como "Movimento de Natal". Aliás, foi dele e Jardelino Lucena o convite para que, aos 16 anos de idade, fosse trabalhar como locutor e noticiarista na Rádio de Educação Rural, depois repórter e diretor de redação do jornal católico "A ordem". Em 1958, Otomar participou da fundação da emissora rural, como seu primeiro diretor-superintendente. O nosso conhecimento veio da militância na Juventude Estudantil Católica (JEC), quando ele exercia a presidência.

Honesto, sincero, leal e semeador permanente do sentimento da gratidão, a mais edificante das virtudes humanas. Começou e terminou a sua vida fiel a D. Eugenio Sales, que o tinha como amigo e colaborador.

Otomar nasceu na cidade de Natal, em 7 de outubro de 1935. Ao lado de Déa, sua dedicada esposa, constituiu família de quatro filhos e trêsnetos. Graduado em 1961 na Faculdade de Serviço Social da UFRN tinha sólida formação acadêmica. Freqüentou vários cursos de pós-graduação e especialização na Universidade Católica de Louvain (Bélgica), Escola prática de altos estudos econômicos e sociais, na Sorbonne (França) e no Instituto Internacional de pesquisa, formação e desenvolvimento de Paris.

Recolho na memória o perfil de professor e jornalista de Otomar. No Centro de Ciências Humanas da UFRN ensinamos sociologia. Por muitos anos, ele representou a revista "Visão" no Estado, uma espécie de "Veja" atual. Escrevia com polidez e fidelidade aos fatos. Na época, fui correspondente no RN da FOLHA, do Diário de Pernambuco e da revista "O Cruzeiro".

Os desafios em busca da harmonia social orientaram a existência de Otomar. Não media esforços para lutar pelo que acreditava. Uma das suas posições mais firmes e ousadas foi o apoio dado à população do Assu, que em 1978 se manifestava contrária a construção da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves. O governo iniciou a construção da obra em 1979 e dois anos depois, antes de concluí-la, houve grave acidente, com
escorregamento do talude de montante, provocando desmoronamento de material, na ordem de 1,5 milhão de metros cúbicos. Ele ainda liderou movimentos contrários a continuidade da Barragem, sem sucesso.

Participava da política, sem ser político militante. Na vida universitária, além de professor brilhante, implantou a Fundação de Pesquisa Cultural da UFRN (FUNPEC). Prestigiado pelo amigo, então reitor Diógenes da Cunha Lima, lançou o "projeto RN", que após polêmicos debates resultou no "I Plano de Desenvolvimento Econômico e Social do Estado".

No período de 1975 a 1980 exerceu no RN a secretaria de Estado do Trabalho e Bem Estar Social. Realizou extraordinária administração, de conteúdo ético e social. Instalou os primeiros Centros Sociais Urbanos implantados no país. Inaugurou a primeira unidade do Serviço Nacional de Emprego do governo federal (SINE). Criou os centros integrados de atenção ao menor (CIAM), núcleos de produção artesanal,
cooperativas de artesanato e fortaleceu a COPALA, fundada por D. Eugenio Sales, que reunia centenas de artesãos potiguares. O último cargo público que ocupou foi o de assessor da presidência da Petrobras.

O RN perdeu uma grande filho. Otomar será lembrado como pai de família exemplar, profissional competente e um idealista de plantão, que sempre lutou pelos seus sonhos, conseguindo realizar muitos deles. Que Deus o receba na Eternidade!

- Ney Lopes escreve neste espaço aos domingos

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