segunda-feira, 26 de abril de 2010

Filmes que não esqueci

Coluna Refletores da Fama, Tribuna do Norte
Nota publicada em 24 de abril de 2010

A brilhante atuação do ex-deputado Ney Lopes na Câmara Federal é do conhecimento geral de Natal e do Rio Grande do Norte. O seu saber jurídico é igualmente reconhecido aqui e fora daqui. Os seus dons de orador, testemunhado pelo escritor Valério Mesquita, seu colega no Colégio Marista, se fez notar ainda na adolescência e ganharia ascendente projeção na tribuna política.

O que é desconhecido da grande maioria de seus eleitores e admiradores, é a atuação de Ney Lopes como cinéfilo. Menino pobre, a paixão cinematográfica o obrigava, para guardar o dinheiro do ingresso, ia a pé ao cinema.

Pela primeira vez, Ney Lopes escreve sobre a sua relação com o cinema e lista filmes e as emoções perpetuadas no coração e na sua memória de cinéfilo.
(Valério Andrade)

Cinema: uma paixão permanente

O cinema é para mim uma paixão permanente. Menino morava na avenida presidente Quaresma (Avenida Um), 363, no Alecrim. Era frequentador assíduo dos cines São Luiz (na Rua Presidente Bandeira, hoje o Banco do Brasil) e São Pedro (Rua Amaro Barreto). Eventualmente, também dos cines Rex, Rio Grande e Nordeste. O meu grande orientador na escolha de filmes para assistir era Berilo Wanderley, com a sua coluna publicada na Tribuna do Norte.

Vinha a pé do Colégio Marista até o Alecrim para guardar os trocados da passagem de ônibus e acompanhar os “seriados” dos domingos pela manhã no São Luiz e São Pedro, com as aventuras do Zorro, Rin-Tin-Tin, Roy-Rogers e outros heróis. Estes seriados eram capítulos semanais, como as novelas da TV de hoje.

O cine São Pedro tinha a entrada mais barata. Porém, a programação não atraía, salvo os seriados. As grandes atrações eram os cines Rio Grande e Nordeste, no centro da cidade. Para mim difícil frequentá-los. Além do preço da entrada teria que ter o dinheiro para a passagem de ônibus. Aos domingos as sessões começavam às 14 horas, com grande frequência de jovens das redondezas. Os festivais cinemascope traziam grandes lançamentos. Em alguns festivais assisti filmes como “o Céu é Testemunha”, “Suplício de uma Saudade”, ”o Dia D” e outros.

O Rio Grande era um cinema majestoso. Ficava do lado direito da praça Pio X. Vizinho funcionava o bar Palhoça, que frequentei com Chaparro, padre Perestrello, Arlindo Freire, Jardelino Lucena, Marco Antonio Rocha e outros jornalistas, nas madrugadas dos plantões das sextas feiras, quando trabalhávamos na edição do jornal A Ordem, cujas oficinas ficavam próximas (atual Catedral).

Recordo um episódio no cine Rio Grande. Em 1962, começava a namorar com Abigail, a minha esposa. Fomos ao cinema. Ela logo mostrou o ingresso, comprado previamente. Pedi para ver e rasguei. Comprei outro ingresso, embora ficasse absolutamente “liso”. Graças a Deus, ela não tinha o costume de lanchar após a sessão.

Guardo lembranças do cinema Nordeste, na rua João Pessoa. Foi o primeiro de Natal a ter ar condicionado (1958). Ao entrar sempre olhava as vitrines da Camisaria Brasil (em frente) e observava os novos modelos de camisas. Nem sempre ia à lanchonete Oasis – vizinha ao Nordeste – saborear as inigualáveis “cartolas”, ou uma “grapette”, aquela que “quem bebe, repete” e ficava com a língua roxa. O “Oasis” era um desfile de moças e rapazes, no final da tarde.

Naquela época, os filmes não sofriam a concorrência do DVD pirata. Não havia internet, Google, fax, celular, ou TV a cabo. O mundo era outro, com os sonhos alimentados nas telas dos cinemas. Passou o tempo e não deixei de ser um apaixonado pelo cinema. Comparo-me a Totó, aquele que vivia num vilarejo da Itália na II Guerra e a sua diversão era freqüentar o “Cinema Paradiso”, ao lado do amigo Alfredo (um filme memorável).

Quando o prédio do cinema foi demolido, Totó emocionou-se e disse que não poderia viajar com o tempo, nem acabar com a saudade. Convenceu-se que o cinema era apenas um sonho, que todos carregam na vida.

Repito a mesma coisa!

(Ney Lopes)

Seleção de Ney Lopes


1.O Céu é Testemunha; 2. Suplício de uma Saudade; 3. Luzes da Cidade; 4. O Mais Longo dos Dias; 5.Evita; 6. O Auto da Compadecida; 7. Um Corpo que Cai; 8. Casablanca; 9. O Pianista; 10. Um Ato de Liberdade; 11. A Casa dos Espíritos; 12 Mozart; 13. Matar ou Morrer; 14. Cinema Paradiso; 15. A Vida é Bela; 16. Perfume de Mulher; 17. Guerra e Paz (versão americana); 18. O Homem que Sabia Demais (versão de 1956); 19. Quo Vadis; 20. Cantando na Chuva; 21. Testemunha de Acusação.

Vídeo/vale a pena rever


Uma cidade que surge


(Dodge City). Direção: Michael Curtiz. Produtor Associado: Hal B. Wallis. Roteiro original: Robert Buckner. Fotografia (em Tecnicolor): Sol Polito. Música: Max Steiner. Elenco: Errol Flynn, Olivia de Havilland, Ann Sheridan, Bruce Cabot, Alan Hale, Henry Travers, Victor Jory, Lançamento nos EUA. 1939. Distribuição (DVD): Warner Home Video.

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