terça-feira, 20 de abril de 2010

Os cinquenta anos de Brasília

Opinião, Diário de Natal
Nota publicada em 19 de abril de 2010

Ney Lopes - nl@neylopes.com.br

Quarta próxima Brasília completará cinqüenta anos de fundação, reconhecida pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade. A ousadia e coragem do Presidente Juscelino Kubitschek, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e outros são comparáveis aos desafios enfrentados na construção de cidades como Camberra, Washington DC e Ottawa, capitais da Austrália, Estados Unidos e Canadá.

Vivi durante vinte e quatro anos entre Natal - o berço - e Brasília, cidade acolhedora e saudável. Ainda hoje participo da vida brasiliense, ao escrever há anos uma página em revista semanal de grande circulação no DF (artigos no site www.neylopes.com.br). A liberdade de expressão assegura que opine, lá e cá, sobre assuntos variados - a exemplo de tantos outros jornalistas -, sobretudo o relato da experiência vivida no Congresso Nacional, onde sempre procurei honrar a confiança do RN, suscitando e discutindo propostas legislativas regionais, nacionais e internacionais.

A coragem de JK ao enfrentar a inveja dos medíocres por "enxergar na frente" e "a vastidão desconcertante do vazio", guarda semelhança com o Tzar Pedro I, na edificação da cidade de São Petersburgo, no início do século XVIII, para ser a nova capital da Rússia. A amplitude do planalto desconhecido e desabitado era empecilho semelhante aos terrenos pantanosos do golfo da Finlândia.

Vem de longe a idéia da construção de Brasília. O "Patriarca" José Bonifácio de Andrade e Silva defendia a mudança da capital como exigência da soberania nacional. A Constituição de 1891 reservou à União área próxima de 15.000 km2 destinada a edificação da sede do governo federal. Todas as demais constituições incluíram a mudança como aspiração nacional. O presidente Getúlio Vargas lançou o movimento "marcha para o oeste". O presidente Eurico Dutra demarcou a área da futura capital.

Ao decidir-se pela construção de Brasília, JK pediu autorização ao Congresso Nacional (1956). A oposição aprovou o pedido, por considerá-lo o "cemitério político do Presidente". Tal fato levou JK a declarar: "Sabe por que o Congresso aprovou o projeto para a construção de Brasília? Eles pensam que não vou conseguir executar".

Um dos marcos da imprensa brasileira está em Brasília, representado pelo "Correio Braziliense", jornal fundado por Assis Chateaubriand, na data de inauguração da cidade - 21 de abril de 1960. A denominação - Correio Braziliense - homenageia o primeiro jornal em língua portuguesa a circular no Brasil (1808), editado em Londres por Hipólito José da Costa. A construção de Brasília tornou viável a ligação de regiões de norte a sul, de leste a oeste, facilitando a integração nacional pela ampliação do mercado interno. A estrada Belém-Brasília é o exemplo mais edificante. Ela nasceu em cima de ampla floresta virgem. As áreas férteis do cerrado transformaram-se em pólo do agro business brasileiro, com a produção de soja, espécies agrícolas e pecuárias.

Brasília significou a partida da política desenvolvimentista brasileira, com o objetivo de transformar a economia nacional - até então predominantemente agrária - em economia moderna, a base da industrialização e urbanização Permitam-me recordar uma alegria que tive em 2002, quando era o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal. Colaborei na aprovação do Fundo Constitucional de Brasília, instrumento legal ainda hoje fundamental ao desenvolvimento da cidade cinqüentenária.

A criação de Brasília por JK provou ao mundo, que vontade e determinação de fazer tornam realidade, o que parece impossível.

Ney Lopes é jornalista, advogado e ex-deputado federal, e escreve neste espaço aos domingos.

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