terça-feira, 8 de junho de 2010

As urnas dirão

Opinião, Diário de Natal
Nota publicada em 06 de junho de 2010

Ney Lopes // nl@neylopes.com.br

Observa-se nos últimos anos, a redução da influência força eleitoral nos países da América Latina. O eleitor se conscientiza e vota livremente. Exige coerência do discurso dos candidatos e das coligações formadas. Há visível rejeição ao oportunismo e a busca de sobrevivência política, a qualquer preço. Afinal, abre-se luz ao final do túnel!

Na recente eleição presidencial da Colômbia aconteceu reviravolta nas previsões das pesquisas. A vítima foi o candidato oposicionista Antanas Mockus, do partido verdade, professor de filosofia e filho de imigrantes lituanos. Ele liderava a preferência popular. Como prefeito de Bogotá, teve comportamento equilibrado e sem extremismos. De última hora, aceitou o apoio de Hugo Chávez, presidente da Venezuela, que em entrevista ao jornal "El Tiempo" interferiu na política interna da Colômbia e condenou as relações diplomáticas com os Estados Unidos. A intenção de Hugo Chávez era impedir a vitória do candidato do atual presidente Uribe e estender asua revolução bolivariana à nação vizinha. O eleitor colombiano não perdoou a incoerência de Antanas Mockusm ao juntar-se à Chávez. Votou maçicamente contra ele, que irá ao segundo turno, com chances mínimas.

Em outros países latino-americanos ocorreram reviravolta eleitoral. No Chile, depois de 19 anos no poder, a chamada "Concertación" perdeu a presidência para Sebastián Piñera, um dos homens mais ricos do país, dono da companhia de aviação LAN, de um sinal de televisão aberto e do time mais popular do Chile, o Colo Colo. Com popularidade acima de 80%, a presidente Michelle Bachelet não conseguiu transferir
votos para o seu candidato Eduardo Frei, ex-presidente do Chile. A causa da derrota governista foi a "oportunista" coligação partidária em torno de Frei, favorável a mais Estado e menos mercado. Generalizou-se a desconfiança dos trabalhadores, diante do temor da perda de empregos e volta à inflação. O presidente eleito recebeu a faixa presidencial do atual presidente do Senado chileno, Jorge Pizzaro, que me sucedeu na presidência do Parlamento Latino Americano (PARLATINO).

Em outubro no Brasil, cerca de 130 milhões de eleitores irão às urnas para eleição do presidente da República, governadores de 26 estados e Distrito Federal, deputados federais (513), 2/3 dos senadores (54), e deputados estaduais (1059). Na pré-campanha, o candidato José Serra endureceu o discurso e denunciou que "o governo da Bolívia é "cúmplice" do tráfico de cocaína para o Brasil". Evo Morales propôs uma nova Constituição na Bolívia, onde está claramente definido que a folha de coca constitui "recurso natural renovável da biodiversidade da boliviana e fator de coesão social".

Comprovadamente, cerca de 80% da cocaína distribuída no Brasil vem da Bolívia, na forma de "pasta" para refino. Enquanto isto, o BNDES financia uma estrada que facilitará o escoamento do tráfico, além de concessões econômicas inexplicáveis, na área da Petrobrás. Mesmo diante de tais evidencias, o presidente Lula, no recente Fórum Mundial da Aliança de Civilizações, abraçou afetuosamente o presidente Evo Morales e às gargalhadas disse: "vamos posar aqui; vamos fazer inveja no Serra". Em viagem à Bolívia em 2009, o governante brasileiro já colocara no pescoço um colar com folhas de coca, para fotografias ao lado de Morales (!). Será que estes fatos públicos e notórios influirão nas urnas de 2010? Ou o Brasil será exceção na América Latina? Ninguém sabe! Somente as urnas de outubro dirão.

Ney Lopes, jornalista, advogado, professor e ex- deputado federal, escreve neste espaço aos domingos.

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