terça-feira, 6 de julho de 2010

Falando de assunto "chato"

Opinião, Diário de Natal
Nota publicada em 04 de julho de 2010

Ney Lopes, Jornalista, advogado e ex-deputado federal

Sei que a maioria da classe política potiguar considera "chatíssimo" falar sobre propostas de geração de empregos, novas oportunidades e elevação de renda do Rio Grande do Norte. O tema preferido, sobretudo dos áulicos de plantão, é o elogio sem limites daqueles qualificados como "competentes", por encontrarem fórmulas "criativas" de somar votos; dividir famílias - uns com o pé no governo e outros na oposição; usar a "boia" salvadora da sobrevivência; atropelar impiedosamente quem preserve a coerência partidária e tentar ganhar a próxima eleição, a qualquer preço. O curioso é que o povo parece aceitar tudo isto. Aliás, parece. Não estou seguro se aceitará mesmo. Só as urnas dirão!

Como "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura" e não desencarno as minhas preocupações em relação ao nosso futuro, percebo que o vazamento de petróleo cru ocorrido no Golfo do México poderá ampliar a oferta de empregos,oportunidades e geração de renda no Rio Grande do Norte. Por que?

A catástrofe mexicana colocou em dúvida a viabilidade econômica da chamada operação "off-shore" (exploração de petróleo em mar aberto) e, consequentemente, das reservas do "pré-sal", cuja extração atingiria profundidade de até 8 mil metros da superfície do mar. Estudos técnicos desenvolvidos, já após a tragédia do Golfo do México, procuram resposta para questões fundamentais como, por exemplo, quando será descoberto e quanto custará equipamento, que possa sanar um vazamento localizado a 6 mil metros ou mais da superfície do mar, no caso da exploração do "pré-sal"? Estas e outras preocupações põem em risco a continuidade da extração do petróleo e gás natural em alto mar ("off-shore") e nas camadas do présal.

Que relação existe entre o vazamento do Golfo do México e o nosso estado? O RN detém quase a metade dos poços produtores de petróleo em terra do país. Junto com o Ceará tem mais de 50 campos, com cerca de 5000 poços terrestres produzindo.A imagem da exploração brasileira de petróleo está associada às imensas plataformas espalhadas na costa. Todavia, cerca de dois terços dos nossos campos estão em terra firme, com produção ainda modesta. Das 29 bacias sedimentares terrestres do Brasil, apenas 5% são exploradas. É o país de maior potencial para atividade "on-shore", com característica geológica semelhante à dos Estados Unidos. O país perfurou, até hoje, cerca de 30 mil poços terrestres. Os Estados Unidos abriram 4,5 milhões em um século e meio de extração, média de 30 mil por ano.

As operações de extração em terra ("on-shore") são bem mais simples. Levam meses (máximo três anos) para o início da produção comercial. Ao contrário, as "off-shore" demandam pesados investimentos e alcançam seis anos ou mais, em razão das incertezas do mar. Os equipamentos de segurança (tubo de tubulação) tendem a elevar os investimentos. A tendência será muitas empresas abandonarem a atividade "off-shore" para se voltarem à extração do petróleo em terra. Terá chegado a vez do Rio Grande do Norte retomar a liderança perdida na extração de petróleo em terra?

Embora seja uma "chatice" falar nisso, vale a pena escrever algumas linhas para meia dúzia de leitores. A hora é de compensar o muito que já perdemos, antes que, novamente, Ceará e Bahia avancem e tomem o nosso lugar, como já ocorreu na refinaria de petróleo e a ferrovia transnordestina. Caso a omissão política se repita no futuro, a culpa não será dos eleitos. Será de quem votar errado em 3 de outubro. Depois não reclamem!

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