domingo, 22 de agosto de 2010

Mudança do horário eleitoral

Opinião, Diário de Natal
Nota publicada em 18 de agosto de 2010

Ney Lopes // nl@neylopes.com.br

A campanha eleitoral esquentou. Após os debates e entrevistas em rede nacional de TV, começou o horário eleitoral. Espera-se que não continue a absoluta ausência de propostas e ideias inovadoras, de parte da maioria dos candidatos. Não há "bandeiras", metas e sonhos a serem perseguidos. Fala-se no óbvio ululante: estradas, escolas, saúde, segurança, etc. Não se diz como melhorar este quadro caótico, a médio e longo prazo. O pior é que o povo parece aceitar e aplaudir. O que fazer? Ninguém acredita que dê voto a postura de seriedade, em relação ao futuro. Certamente, os "compromissos políticos" impedem estas posições. Lamentável!

A preferência é pela "mesmice" da emoção inconsequente ou temas rasteiros, sem criatividade. O horário gratuito é uma "faca de dois gumes". Pode ajudar e pode desajudar. Sobretudo na eleição majoritária, o perfil do candidato vale muito. Quanto menos artificial ele se apresente, mais chances de sucesso terá. Os candidatos produzidos artificialmente despersonalizam-se e se transformam em autômatos. Seguem a orientação dos marqueteiros, considerados semideuses, com a virtude sobrenatural de conhecer previamente o que o povo quer ouvir. Se estes "marqueteiros" tivessem tal dom, seriam eles próprios os candidatos.

Sempre defendi que a legislação eleitoral deveria transformar o horário gratuito em debates permanentes entre os candidatos majoritários. Isto permitiria ao eleitor conhecer os mais capazes, eliminar a mediocridade dos despreparados, vazios, sem ideias e propostas viáveis. Cheguei a apresentar projetos de lei - adormecidos na Câmara dos Deputados - que transformariam parte do horário eleitoral, em debates permanentes. O tempo seria igual para os candidatos. A justiça eleitoral coordenaria a escolha dos nomes, seleção dos temas, tudo entregue a uma consultoria jornalística contratada para esse fim, com formato de produção totalmente jornalística (perguntas desafiadoras), visando atrair o interesse do telespectador e do ouvinte.

Os mais famosos debates da História ocorreram nos Estados Unidos. Em 1858, Abraham Lincoln e Stephen A. Douglas reuniram-se em sete ocasiões, para discutir propostas por três horas. Anos depois, os debates eram realizados no rádio. Em 1960, John Kennedy e Richard Nixon protagonizaram o primeiro debate presidencial transmitido pela TV. Em 1980, Reagan e Carter se enfrentaram também ao vivo. Kennedy e Reagan ganharam as eleições, em razão de terem sido vitoriosos nos debates.

A Inglaterra inovou na última eleição. Pela primeira vez, foram ao ar debates de noventa minutos de duração, nas três quintas-feiras anteriores à eleição, todos com record de audiência. O resultado final mudou inteiramente o quadro eleitoral previsível, diante do excelente desempenho do líder liberal democrata, Nick Clegg, de 43 anos, que obteve expressiva votação e participa do novo gabinete, em acordo firmado com o primeiro ministro David Cameron. Até então, o destaque nas eleições inglesas era dos dois partidos tradicionais - trabalhistas e conservadores. A inovação engrandeceu a democracia e serve de experiência para o mundo.

A mudança do horário eleitoral gratuito e a sua transformação em debate entre os candidatos majoritários teria papel educativo relevante. Daria chance do eleitor melhor conhecer os partidos, as propostas e os candidatos e, sobretudo, auxiliaria os indecisos. Esta é uma sugestão concreta, a ser algum dia (não se sabe quando) debatida pelo Congresso Nacional, na reforma política, eleitoral e partidária, absolutamente indispensável à estabilidade da democracia brasileira.

Ney Lopes, advogado, jornalista e ex-deputado federal, escreve neste espaço aos domingos, mas o artigo da semana circula excepcionalmente hoje.

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