quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Choro por ti, Brasil!

Cultura, Gazeta do Oeste
Nota publicada em 05 de setembro de 2010

Ney Lopes, www.neylopes.com.br

O processo eleitoral aproxima-se da reta final. As pesquisas divulgadas, por mais viciadas que sejam, anunciam tendências do eleitorado. Na prática, os partidos foram extintos. Em seu lugar aparecem os eventuais grupos e ajuntamentos de interesses. Para alguns candidatos, certos correligionários dispensam adversários! Substitui-se a fidelidade partidária - consagrada na Constituição - pelo oportunismo eleitoral. A "competência" reconhecida é de quem trai e monta "negócios" futuros, com aliados de ocasião.

Outro fenômeno sócio-político preocupante na atual campanha eleitoral é a quase impossibilidade dos candidatos sem recursos chegarem perto do eleitor. Enquanto isto continua impune a nefasta influência do poder econômico. Os "cabos eleitorais" agem em surdina. Proíbe-se o candidato de mostrar o que fez e fará, ao limitar em apenas dez o número de pequenos anúncios divulgados na imprensa escrita, mesmo com as despesas incluídas na prestação de contas. Por que esta absurda limitação incluída na regulamentação do TSE? Como o eleitor poderá conhecer o serviço prestado e as idéias do candidato para fazer as comparações? Tudo premia o poder econômico, cuja repressão exige provas materiais, quase impossíveis de serem colhidas.

A única esperança será o eleitor separar o joio do trigo. Caso o eleitor "lave as mãos" estaremos à beira do modelo Chávez na Venezuela, que levou ao fechamento de órgãos de comunicação. A propósito de influência da mídia, nota-se a visível participação do governo federal na versão dada a certas denuncias e escândalos. No caso da recente de quebra de sigilo da Receita Federal, o governo e o seu partido - PT - negam tudo. Dizem não saber de nada, acerca dos fatos que devassam a privacidade de cidadãos e ferem direitos fundamentais. Não se trata de responsabilizar o governo Lula, que tem direito a ampla defesa. Cabe lembrar que ao serem descobertas irregularidades no governo do então governador José Roberto Arruda, o PT e o governo logo carimbaram o escândalo como o "mensalão" do DEM", simplesmente pelo fato do Governador ser deste partido.

Dois pesos e duas medidas! De um lado, o governo e o PT negam responsabilidade na quebra criminosa do sigilo de filha de um candidato. Ao mesmo tempo, repetem e propagam na opinião pública, que os desvios praticados em Brasília caracterizam o "mensalão do DEM", mesmo após o governador ter sido expulso sumariamente do partido.

A culpa de tais situações é exclusiva da classe política. Ocorrem pela completa descaracterização dos partidos políticos. A "salada" dos palanques mistura correligionários e adversários. "Competente" é quem sai da sala de visita de um governo para o outro que ganha e continua usufruindo benesses. Tudo virou japonês. Exige-se fidelidade partidária, mas não é garantida a democracia interna dos partidos. Cabe perguntar, fidelidade partidária como e a quem é devida? Fidelidade aos partidos do governo e oposição, todos juntos? O pior virá depois da eleição, quando Presidente e governadores negociarão com os "ajuntamentos" políticos formados nas estapafúrdias coligações em disputa. Não se recrutarão aliados competentes, mas sim os "oportunistas de plantão". Partidos, programas e propostas desapareceram no leilão das conveniências pessoais. Poucas exceções. Ninguém sabe mais quem é quem! O que fazer? Só resta lamentar e dizer: "choro por ti Brasil!". A esperança é que entre os eleitos surjam vocações de estadistas para superar tais contradições. Vamos aguardar!

Ney Lopes, jornalista, advogado e ex-deputado federal, escreve neste espaço aos domingos.

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