segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O FUTURO DA IMPRENSA ESCRITA

Cultura/Opinião, Gazeta do Oeste
Nota publicada em 06 de fevereiro de 2011

Lançado quarta última nos Estados Unidos "The daily" - o primeiro jornal digital para iPad do mundo. Bastando um toque na tela sensível do iPad, o leitor acessa artigos noticiosos, gráficos interativos, vídeos e fotos. Com a aparência de revista digital, o "The daily" terá circulação de jornal diário, interatividade, conteúdo multimídia e integração com redes sociais. O iPad foi lançado em abril de 2010 e logo se tornou um equipamento eletrônico (gadgets) de grande procura mundial. Foram vendidos cerca de 15 milhões de exemplares no ano passado e as estimativas apontam mais do dobro em 2011. O aplicativo para o "The daily" (gratuito durante as próximas duas semanas) está disponível no iTunes dos Estados Unidos. Não há previsão de lançamento no Brasil.

O futuro chega à imprensa escrita, através dos avanços tecnológicos. Será que desaparecerão os jornais impressos? Acho que não. As empresas de comunicação têm grande capacidade de adaptação, com novas estratégias. Por exemplo, hoje não se justificaria a existência da tipografia, porém ela sobrevive para certas finalidades.

Recordo a época em que era repórter e depois chefe de redação do jornal A ORDEM em Natal, onde cheguei a ganhar um prêmio Esso regional de jornalismo. Varava as madrugadas nas oficinas do jornal, ao lado do técnico gráfico Mariano, de saudosa memória. O chumbo quente derretia nas linotipos. Usava-se uma pinça para retirar os filetes em brasa com os textos impressos, a fim de jogar tinta, imprimir e fazer a revisão. Trabalho penoso e difícil. Nos primeiros raios de sol dos sábados, o jornal chegava às bancas. Cada edição era festejada.

Em 1964 convidado pelo governo dos Estados Unidos visitei o jornal "New York Times". Deslumbrei-me com o "offset", na época o mais moderno processo de impressão de jornais existente no mundo. A principal inovação eram os fotolitos. Desapareciam os moldes de chumbo das páginas. Saía de cena o chumbo quente, usado há mais de século e meio. Tudo era substituído pelo filme e o alumínio. Entusiasmado trouxe de souvenir página inteira em alumínio, com textos do jornal americano. Na redação da ORDEM foi uma festa. Todos queriam ver a revolução do jornalismo impresso.

Seis anos depois (1970), os Diários e Rádios Associados, através do seu diretor Luiz Maria Alves, instalaram no RN o sistema "offset". O Diário de Natal passou a ser matutino e assumiu a liderança da mídia impressa no Estado.

Na década de 90, iniciou-se a implantação de notícias no mundo digital. Os jornais produziram versões digitalizadas. No Brasil, já existem alguns jornais publicados apenas digitalmente, dando adeus ao papel e a tinta. O conteúdo é disponibilizado nos sites. Agora com iPad, a inovação vai mais além. O leitor digital será envolvido nas grandes questões do dia e se expandem as fronteiras da comunicação. O "The daily" explora os recursos multimídia e oferece galerias de fotos, vídeos, gráficos e áudios. Os usuários podem também compartilhar conteúdos no "twitter", no "facebook", publicar comentários em texto ou em áudio e salvar para ler em outro momento. As notícias chegam ao iPad do assinante toda manhã.

O jornal digital semelhante ao "The daily", um dia chegará ao nosso estado, da mesma forma que chegou o "offset". Só lastimo, não poder ler A ORDEM, com simples toques na tela de um iPad, sem a necessidade de varar as madrugadas para imprimi-la.

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