terça-feira, 22 de março de 2011

Bom para Dilma, ruim para Obama

Opinião, Gazeta do Oeste
Nota publicada em 20 de março de 2011
Por Ney Lopes

Barack Obama, o homem que promete devolver ao seu povo o sonho do "american way of living", aposta na liderança do Brasil na América Latina. Esta é a principal razão da sua visita ao país neste final de semana. Tradicionalmente, a política externa norte-americana apresentou flutuações, na América Latina e no Caribe. Durante a guerra fria, as avaliações eram no sentido de que a intranqüilidade na região tinha origem na desigualdade social e na interferência soviética. O presidente Clinton liderou ações de aproximação com a América Latina, que acabara de se livrar de governos autoritários e buscou a formação de blocos econômicos regionais. Foi contido pelo Congresso, que rejeitou o "fast track". Hoje, a Casa Branca vê o Brasil como país influente e a sétima economia do mundo. A partir do Plano Real, implantou-se política econômica consistente, seguida a risca pelo ex-presidente Lula, que permitiu abertura à concorrência, modernização do "agro business", crescimento industrial, ampliação da competitividade global das finanças, engenharia e outros serviços.

Desde ontem, Dilma e Obama, discutem questões estratégicas e econômicas. De um lado, Obama quer participar da exploração do petróleo na camada do pré-sal, depositada abaixo do leito do mar, numa extensa camada de sal, a mais de 7 mil metros de profundidade. De outro, o governo brasileiro precisa estar de "olho aberto", a fim de preservar a nossa matriz energética, não apenas na exportação de petróleo (o país dispõe da mais avançada tecnologia mundial "off shore", que permite extrair petróleo em alto mar), mas também na ampliação de fontes renováveis de energia hidráulica, produtos da cana-de-açúcar, lenha, ventos e carvão vegetal. Há 30 anos, o governo federal investe no programa Proálcool, o que já resultou na liderança mundial brasileira em pesquisas e produção de etanol. O "biodiesel", obtido a partir da biomassa vegetal, estimula a atividade agrícola, o progresso do agro business e gera milhares de empregos na área rural, com oaproveitamento da soja, pinhão-manso e mamona. Obama manifesta também interesse no financiamento de obras de infra-estrutura para sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 (estádios, estradas e aeroportos). No comércio bilateral, os dois países estão em desacordo. Os Estados Unidos pressionam por maior acesso de seus bens de consumo. O Brasil reivindica menos subsídios ao algodão e a agricultura em geral. O maior superávit comercial dos americanos é com o nosso país. Em 2010, o "furo" alcançou US$ 7.7 bilhões. Preocupa a queda de 15% das nossas exportações para os EUA e o pesado fluxo de investimentos estrangeiros, que força a valorização artificial do real frente ao dólar.

Na chamada "guerra cambial", os dois países enfrentam dificuldades aparentemente comuns, em relação à China, que detém reservas próximas de US$ 1 trilhão. Os chineses mantêm o "Yuan" desvalorizado e derrubam os concorrentes mundiais. O desafio interno do presidente Obama será assegurar a estabilidade do dólar, abrir a porta ao aumento das exportações e reduzir a dependência de Pequim. Neste contexto, a presidente Dilma certamente proporá a Obama alternativas pragmáticas, que viabilizem o crescimento econômico mundial, a serem submetidas ao G-20, grupo que reúne as 20 maiores economias universais. Há quem diga, entretanto, que a "guerra cambial" entre EUA e China seria para "inglês ver" e os dois se entendem na preservação dos interesses em desvalorizar as moedas nacionais e facilitar as suas exportações. Caso isto seja verdadeiro, o aforismo do ex-embaixador Juracy Magalhães se inverteria, e o que for bom para Dilma Rousseff, seria ruim para Barack Obama.

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