quarta-feira, 15 de junho de 2011

Protesto mira o centro do poder

Política c/ capa, Diário de Natal
Matéria publicada em 08 de junho de 2011



Com bandeiras vermelhas e slogans revolucionários, manifestantes fecham sede da Prefeitura de Natal e acampam na CMN

O terceiro protesto com o tema "Fora Micarla", realizado na manhã de ontem, atingiu diretamente, pela primeira vez, a administração municipal. Os palácios Felipe Camarão e Djalma Maranhão, sedes da Prefeitura e da Câmara Municipal de Natal (CMN), respectivamente, foram esvaziados com a chegada dos cerca de 200 manifestantes que caminharam pelo Centro e por Petrópolis. Pedindo o impeachment da prefeita Micarla de Sousa (PV), os manifestantes chegaram a ocupar o plenário e, após o cancelamento de uma audiência pública sobre as Unidades de Pronto Atendimento (UPA), o pátio da casa legislativa. No turno da tarde, os dois edifícios funcionaram normalmente.

A chuva forte que caía sobre Natal não inibiu os participantes do movimento, que saíram da Praça Cívica, em Petrópolis, até a sede do executivo municipal, debaixo de muita água. Vigiados por agentes da Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) e por policiais militares, os manifestantes, em sua maioria jovens estudantes secundaristas e universitários, marcharam sem problemas. Para Matheus Cavalcanti, 15 anos, estudante do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), a presença da população é essencial. "Apesar de estar perdendo aula no IFRN, acredito que estar no protesto é muito importante. Todos estamos indignados com a situação em que Natal está", afirmou Matheus.


Passeata reuniu estudantes, sindicalistas e militantes de esquerda

Vestidos com camisas vermelhas, com a estampa de Che Guevara ou do cão Mutley (desenho animado norte-americano), vários manifestantes do movimento, que contava com integrantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), dentre outros, procuravam demonstrar o caráter supostamente apartidário do movimento.

"Não podemos continuar aguentando este sofrimento, que vem por três anos. Este movimento inédito, apartidário, unindo todas as correntes, unindo o povo, é a resposta a essa administração", disse Richard Dean, 23, estudante universitário. Questionada sobre o protesto, a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Natal afirma que a atual administração respeita o direito democrático de a população se manifestar, contanto que não haja ofensas nem depredação ao patrimônio público. À tarde, os manifestantes continuaram na Câmara, alguns acampados em barracas.

Servidoras divergem sobre ato

Ao chegarem em frente à prefeitura, perto das 10h30, os manifestantes encontram o palácio praticamente vazio. Minutos antes da chegada da passeata, a sede do executivo havia sido esvaziada. Inúmeros servidores deixaram o local em seus carros, a pé ou em Kombis com selos da Prefeitura. Cantando cirandas e gritando palavras de ordem (algumas de baixo calão) contra a prefeita, sob os olhares de 15 guardas municipais que estavam no local para impedir uma invasão.

Impedida de entrar, a servidora municipal Marlete Furtado, 68, afirmou não concordar com o protesto. "Nos 30 anos que tenho de Prefeitura, considero Micarla uma das melhores prefeitas. Precisamos dar mais tempo", explicou. Para ela, a prefeita "não pode fazer 100%" e o movimento seria orquestrado por políticos.

Já para Gorete Felizardo, 47, o protesto é legítimo. "Não sabia que aconteceria hoje. Só não participarei porque não posso sair do meu trabalho", disse. Para ela, é empolgante ver jovens buscando a mudança.

Manifestação ganha apoio da oposição

A manifestação ocorrida ontem na Câmara Municipal de Natal (CMN) atraiu o apoio dos vereadores de oposição. Enquanto só um dos poucos parlamentares da bancada da prefeita Micarla de Sousa (PV) presentes à sessão comentou o manifesto, a oposição aproveitou a oportunidade para endossar as reclamações dos manifestantes. O líder da oposição na Casa, vereador Raniere Barbosa (PRB), elogiou a atitude dos manifestantes.

Para Raniere, a manifestação reflete a insatisfação do povo de Natal com a gestão da prefeita Micarla de Sousa. Ele frisou que espera que o manifesto sirva para a gestora perceber o quanto sua administração está errando. "Essa é uma gestão sem rumo. É brincadeira a prefeita ir para uma emissora de rádio dizer que Natal não tem problemas. A cidade tem problemas e ela precisa reconhecer os seus erros", declarou.

O vereador Ney Lopes Júnior (DEM) considerou o manifesto como uma ação política de desgaste à prefeita, mas frisou que amobilização é legítima. "Eu considero a manifestação legítima e democrática. A sociedade tem o direito, desde que de uma forma pacífica. Os manifestantes discordam da prefeita. Deve haver a busca por um diálogo. Eles devem apresentar suas ideias ao Executivo", sugeriu.

Os vereadores Fernando Lucena (PT), Júlia Arruda (PDT), Sargento Regina (PDT) e Adão Eridan manifestaram apoio ao movimento. Lucena elogiou a iniciativa dos manifestantes e atentou para a necessidade de os movimentos sociais se fortalecerem no estado. "Eu coloco meu gabinete à disposição dos manifestantes. È por meio da luta que chegamos ao nosso objetivo. Eu apoio o manifesto", declarou.

Júlia Arruda disse que os protestos retratam a insatisfação popular com a gestão municipal. Para a parlamentar, a legitimidade dos participantes é inquestionável. "Sou a favor no movimento organizado. Acho que os estudantes devem fazer manifestações pacíficas. Defendo também que o grupo entregue sua pauta de reivindicações aos representantes do Executivo, paraque haja diálogo", declarou. Por sua vez, o vereador Maurício Gurgel (PHS), vice-líder da prefeita, tentou conversar com os participantes e defender Micarla, mas foi vaiado e hostilizado.

A sessão na Câmara foi interrompida por falta de quórum. A oposição decidiu mais uma vez obstruir a sessão, pelo fato de a bancada da prefeita não ter cedido nem a presidência nem a relatoria da Comissão Especial de Inquérito (CEI) dos aluguéis para a oposição. A Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Natal afirma que a atual administração respeita o direito democrático de a população se manifestar, contanto que não haja ofensas nem depredação ao patrimônio público.

Grupo define nova estratégia

O líder da bancada de oposição, Raniere Barbosa (PRB), informou que não há mais a expectativa da oposição de fazer parte da Comissão Especial de Inquérito (CEI) dos Aluguéis, que foi criada com o intuito de investigar os contratos da Prefeitura para locação de imóveis, tendo em vista que o grupo da prefeita tem maioria e não vai ceder a presidência nem a relatoria do inquérito.

Segundo a vereadora Sargento Regina (PDT), propositora da comissão, o caminho agora é tornar as denúncias referentes aos aluguéis públicas e encaminhá-las ao Ministério Público. A oposição também pretende realizar uma audiência pública para debater o assunto. O parecer da Procuradoria da Câmara Municipal de Natal (CMN) sobre o futuro da CEI, que foi criada com o intuito de investigar os contratos da prefeitura para locação de imóveis, não saiu ontem, como estava previsto. A tendência é que a CEI seja extinta por falta de interesse dos vereadores em participar do inquérito.

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