segunda-feira, 27 de junho de 2011

UMA DOR QUE NÃO PASSA

Cultura/Coluna Opinião, Gazeta do Oeste
Artigo publicado em 26 de junho de 2011

Não consigo esquecer uma reunião realizada no dia 12 de maio de 2005, no gabinete do então ministro da Integração Regional, Ciro Gomes. Lá estavam a governadora do Estado, toda a bancada federal (deputados e senadores) e representações da sociedade civil. Participei como deputado federal. O governo decidira iniciar a ferrovia transnordestina, com 1.728 quilômetros de extensão. A finalidade seria promover um longo ciclo de desenvolvimento para o nordeste, com elevação da competitividade agrícola e mineral da região, através de moderna logística que unisse uma ferrovia de alto desempenho a portos de calado profundo, que podem receber navios de maior porte. A ferrovia abrangeria a ligação entre os portos de Pecém (Ceará) e Suape (Pernambuco), ao cerrado do Piauí, no município de Eliseu Martins.

Pode-se admitir em sã consciência que do Piauí a Pernambuco, o Rio Grande do Norte fosse o único estado excluído? Claro que não. Protestei veementemente na frente do Ministro Ciro Gomes, cujo temperamento é conhecido. Ele reagiu "de cara amarrada" e disse com todas as letras, que o RN não faria parte da ferrovia transnordestina. Silêncio sepulcral! Tive vontade de retirar-me do gabinete. Não o fiz para não constranger os presentes. Nem as entidades de classe se pronunciaram. Fui para a tribuna da Câmara dos Deputados (está nos Anais) e protestei com veemência. Tenho livros publicados com os pronunciamentos feitos. Pedi a transcrição na Câmara de um estudo técnico do respeitável professor Marcos Caldas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, demonstrando a viabilidade econômica da inclusão do RN no trajeto da ferrovia, não apenas o ramal Mossoró/Paraíba, que seria insuficiente, mas incluindo as regiões do Vale do Açu. Macau e o "grande Natal" para dá suporte ao nosso Porto e a futura área de livre comércio. No final de tudo, prevaleceu o parecer de uma empresa privada, a Transnordestina Logística SA - concessionária da futura ferrovia Transnordestina desde 1997 -, cujo acionista majoritário é o Sr. Benjamin Steinbruch, proprietário da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Por incrível que pareça, porta vozes do presidente Lula justificaram a impossibilidade da inclusão do RN, por tratar-se de uma decisão "privada", de que o nosso estado daria prejuízo. Imaginem só! Posição idêntica a de "lobistas", a favor de interesses contrários ao interesse público.

Que autoridade teria uma empresa privada - pendurada no galho "amigo" do governo - para negar ao povo do Rio Grande do Norte o direito de crescer e de prosperar, sob o falso argumento de que aqui não teria lucro? O governo federal fez "vista grossa" e puniu duas vezes, de forma injusta, um estado tipicamente nordestino, que tem mais de 90% do seu território no semi-árido, desrespeitando justificativas técnicas e privando-o do desenvolvimento. O Presidente Lula ignorou o Rio Grande do Norte, o maior produtor de petróleo em terra do país, e levou refinarias de petróleo para o Ceará, Maranhão e Pernambuco. Antes, já nos houvera excluído dos trilhos redentores da ferrovia transnordestina. Aconteceram todos esses fatos e nas eleições de 2006 venceram todos aqueles que "silenciaram" e não defenderam o Estado. Dá pra entender? Depois, o povo ainda reclama. Reclamar de que, ou de quem, senão de si próprio?

Li constrangido que a ferrovia transnordestina está a pleno vapor. Receberá mais de R$ 400 milhões, oriundos do Finor - Fundo de Investimentos do Nordeste, até o fim deste mês. A enxurrada de dinheiro será para "ajudar" uma empresa particular - a Transnordestina Logística SA. Privatização nessa lógica é incompreensível. O governo financia com juros subsidiados, e no final o lucro é da empresa. Enquanto isto, perdemos a valorização das terars do semi-árido, a reorganização da nossa produção agrícola, geração de impostos e a participação em mais de 500 mil empregos, atração de novos empreendimentos e o estímulo ao projeto do biodiesesl.

Confesso ao leitor que assistir tudo isto, sem nada poder fazer, é uma dor que não passa! Pobre Estado. Choro por ti!

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