segunda-feira, 14 de junho de 2010

Papo após semana agitada

Opinião, Diário de Natal
Nota publicada em 13 de junho de 2010

Ney Lopes // nl@neylopes.com.br

Semana agitada, a que passou. O TSE confirmou a opinião jurídica que dei, em artigo publicado no DN (23/05/10). A lei da "ficha limpa" será aplicada em 2010. Grande vitória, embora falte muito para moralizar as eleições e os partidos. O presidente Lula visitou o RN, cercado por correligionários e até adversários. Será a prova de que o radicalismo acabou na política local? Ou não? No plano externo, a ONU autorizou sanções ao Irã e o Brasil isolou-se.

Sexta cedinho fui ao supermercado. Lá encontrei velho amigo da época do Colégio Marista, como sempre falante e puxando "papo". Antes dos cumprimentos, ele já disparou aos gritos: "como é terei em quem votar este ano? Você será ou não candidato? O Estado não pode dispensar a sua experiência". Agradeci a gentileza e disse-lhe que não sabia, ainda. "Tudo dependerá do partido reconhecer, ou não, os serviços e a coerência da minha vida pública. Ninguém pode ser candidato de si próprio. Na hora própria falarei aos amigos" - expliquei-lhe. Inquieto e desejoso de comentar política perguntou se eu acreditava na extinção do radicalismo local, ou, se apenas fora substituído pelo oportunismo deslavado? Completou: "será que o
povo acompanha, ou aceitará tudo goela abaixo?". Para não polemizar, opinei acreditar que o radicalismo acabara no RN. O interlocutor discordou e falou nas "zebras" de 2010. Manifestou confiança no voto dos "analfabetos", pelo fato de que - segundo ele -, os "letrados" em nome da "sobrevivência pessoal" traem, desdizem, buscam empregos, financiamentos oficiais para não pagar nunca e aproximação com quem pode ganhar a eleição". Recordou que, na época de Dinarte e Aluízio (bandeiras vermelhas e verdes), não havia radicalismo como dizem, mas sim posições firmes e corajosas. Afirmou ter conhecido "pessoas que sofreram o pão que o diabo amassou no governo de Aluízio, mas não abandonaram o "barco" de Dinarte. Hoje, a eleição acaba e no outro dia quase todo mundo adere a quem ganhou. É como um torcedor do América virar "a casaca" para o ABC, após a derrota do seu time. Chamam isto de "competência política". Será que o Aurélio mudou o significado da palavra, ou "competência" significa pouca vergonha? Como acreditar em alguém em "cima do muro", na busca de sobreviver ?"

Mudei de assunto para não aprofundar as análises locais. Falei da "ficha limpa". O amigo parabenizou a minha posição pública, desde a primeira hora favorável a constitucionalidade da lei, que o TSE confirmou vigência imediata. Perguntou se a "emenda Dorneles" protegerá os corruptos. Disse-lhe que não. Situação semelhante ocorreu na lei de inelegibilidades de 1990, da qual fui relator e o STF mandou aplicar a casos anteriores. Falamos, ainda, sobre o isolamento do Brasil, no caso do Irã. Mais uma vez, funcionou a sagacidade do amigo, ao opinar: "sabe o que irá acontecer? Obama vai procurar Lula para intermediar conversas com o Irã, por ser ele o único capaz desta missão. Lula é "mestre" nisto. Fazia a mesma coisa no ABC paulista. "Armava" briga aparente com as multinacionais de veículos e depois sentava à mesa para negociar acordos trabalhistas". De forma incisiva sentenciou: "infelizmente, a política premia hoje em dia, quem trai compromissos partidários e age com esperteza. O povo tem que estar de olho aberto Os que agem corretamente são até chamados de radicais, ou desagregadores. Agregar nestes casos seria uma "virtude" exclusiva de quem não tenha palavra, nem coerência. É hora de lembrar Rui Barboza".

Terminei as compras e despedi-me do amigo. Fiquei pensando: "será que ele tem razão no que diz, ou é um amargurado?"

Ney Lopes, jornalista, advogado, professor de direito constitucional e ex-deputado federal, escreve neste espaço aos domingos.

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