segunda-feira, 28 de março de 2011

OBAMA, DILMA E ROCAS

Cultura/Coluna Opinião, Gazeta do Oeste
Nota publicada em 27 de março de 2011

Espremendo a laranja, em termos práticos deu pouco suco a visita do presidente Obama ao Brasil. O que irá acontecer, não se sabe. Desde 1808, brasileiros e americanos alternam períodos de cooperação, com alguns atritos diplomáticos. Os Estados Unidos foram a primeira nação a reconhecer a independência do Brasil (1824).

É muito antiga a tentativa do Brasil ter assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, reivindicado a Obama pela presidenta Dilma. Tudo começou em Natal, no bairro das Rocas em 1943, quando Getúlio Vargas e Franklin Delano Roosevelt assinaram o acordo de cooperação, que permitiu o uso da base aérea de Parnamirim por tropas americanas. Além do financiamento para construção de Volta Redonda, Vargas já tentou, sem sucesso, garantir um assento no Conselho de Segurança na Liga das Nações, sucedida pela ONU. Em 1987 entornou-se a amizade entre os dois países, após a moratória decretada pelo Brasil. Os americanos impuseram sobretaxas aos produtos brasileiros, devido à reserva de mercado da informática.

Lamentável não ter evoluido satisfatoriamente, a inclusão do Brasil no "Visa Waiver Program", que dispensa o visto para entrada nos Estados Unidos. Atualmente, o programa beneficia cidadãos de 36 países, que podem permanecer por até 90 dias nos Estados Unidos, a turismo ou a negócios. Depois de fazer em Brasilia e Rio tantos elogios à sétima economia do mundo, como o Presidente Obama poderá explicar, que entre as 10 maiores economias do mundo (Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Brasil, Espanha e Canadá), apenas os cidadãos brasileiros sejam obrigados a terem visto de entrada no seu país?

Um dado curioso foi o Presidente Barack Obama ter desempatado o "disse me disse" sobre o mérito dos sucessos econômicos e sociais do Brasil nos últimos anos. Ele afirmou que o Brasil inegavelmente alcançou um progresso surpreendente. Já é a sétima economia do mundo, e essa dianteira como potência econômica e financeira não pode ser considerada questão de sorte. Tudo deve ser creditado aos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio da Silva. Na plateia, a Presidenta e o ex-presidente FHC ouviram o "desempate" e deram demonstrações de civilidade nas deferencias recíprocas. Nelson Rodrigues dizia que "só os profetas enxergam o óbvio". Será que Obama foi profeta, ou um estadista, que não quis bancar a avestruz, escondendo a verdade e deixando a realidade exposta?

Comentou-se a ausência do ex-presidente Lula. O relacionamento entre Obama e ele teve o seu auge, no momento em que o mandatário americano em Washington dirigiu-se ao brasileiro e disse-lhe: "esse é o cara! Amo esse cara! O político mais popular da terra!". Depois, tudo azedou, por conta da visita ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad em 2009; o episódio de Honduras e a vitória brasileira na disputa comercial do algodão na OMC. A ausência do ex-presidente Lula em Brasília evitou especulações acerca de suas posições no passado e o futuro de parcerias entre os dois países. Talvez, não tivesse ocorrido a prioridade política dada hoje por Obama ao Brasil, sem as posições de Lula. Discordo da política externa do seu governo. Porém, cada fato tem que ser analisado no seu contexto específico.

Ainda sobre a visita de Obama, uma pergunta. Será que se ele fosse presidente brasileiro teria usado o avião do governo, em companhia da esposa, filhos, sogra e madrinha da filha para visitar um país estrangeiro? Se assim agisse, ao voltar o impeachment estaria requerido. Diferença apenas de cultura e de maturidade política!

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